Fundação da Congregação das Irmãs da Divina Providência

ago 19, 2019

Marcado profundamente pela Providência de Deus, Eduardo reconheceu no abandono social das crianças e jovens um apelo de Deus e respondeu com uma atitude de amor cristão.

 

Eduardo sofreu injustamente ao longo dos anos de prisão, mas também fez uma profunda e existencial experiência com Deus Providência. Essa experiência sustentou a sua vida e lhe ajudou a fazer da sua cela um tabernáculo, um lugar onde podia encontrar profundamente Deus presente na dor do cárcere alimentando a confiança e a esperança de que um dia iria viver em liberdade novamente. Em todos os momentos a graça de Deus manteve o jovem idealista esperançoso e desejoso de realizar seus sonhos. Os desejos e sonhos de uma Igreja missionária e de uma sociedade mais humana, justa e digna para todos os filhos e filhas de Deus.

Quando encontrou a liberdade, em 21 de abril de 1841 foi acolhido com muita alegria pela família, amigos e conhecidos e pode respirar o ar das ruas de Munster com um novo olhar. As pessoas esperavam que fosse partilhar o sofrimento vivido, mas não, ele ofertou tudo a Deus.

Eduardo voltou com um olhar atento e sensível às realidades da época. Impressionado pela miséria social de crianças e jovens, pelo desamparo físico e intelectual e pelas necessidades morais e espirituais das crianças e dos órfãos das camadas populares mais pobres da cidade de Münster (Alemanha), reconheceu, à luz de sua profunda fé na Divina Providência, um grande apelo de Deus.

Eduardo reconheceu nas crianças e adolescentes a sua própria experiência de abandono e injustiça. A escola da vida o encarregou de viver grandes alegria e sofrimentos solidificando sua fé, sua personalidade e seus ideais, deixando sua marca registrada na defesa da vida ameaçada.

Eduardo partilhou este apelo com seus amigos, encontrou apoio por parte de algumas pessoas e desanimo por parte de outras. Mas, o apelo de Deus falou mais alto e como em Munster não existia uma Congregação Religiosa que pudesse assumir a missão de cuidar desta realidade social ele teve a coragem de responder a esse apelo com uma atitude de amor cristão, fundando, em 1842, o orfanato para crianças pobres em St. Mauritz e a Congregação das Irmãs da Divina Providência.

Para a fundação faltavam todos os recursos. Faltava especialmente espaço, recursos materiais e também jovens mulheres que assumissem a causa. Bateram na porta de pessoas ricas e humildes. Eduardo não desanimava, pelo contrário, confiava firmemente na Providência de Deus. E a ajuda começou a vir de todos os lados. Duas jovens professoras e outras duas jovens também se encantaram pela causa assumindo-a com amor e empenho. Eduardo também tinha consciência de que as Irmãs da novel Comunidade deveriam viver com um amor profundo a consagração que ainda iriam assumir com a capacidade de fazer outras pessoas felizes, especialmente às crianças órfãs.

E assim a pequena semente foi lançada e confiada aos cuidados da Providência de Deus.

 

  • A semente foi lançada…. Eduardo confia obra nas mãos da Providência de Deus.

             “Faço o que estiver ao meu alcance e Deus não me abandonará”.

 

“A originalidade de seu ser e sua influência espiritual é que marcaram, mais que quaisquer palavras, as atitudes e a vida das primeiras Irmãs e deram à Congregação a sua forma interior”.

 

Após Fundar a Congregação, dedicou-se de corpo e alma à mesma para dar solidez interior. Juntamente com esta dedicação, deu também atenção e busca feliz na concretização de seu sonho. No entanto, sua saída da prisão dava-lhe apenas uma liberdade relativa; continuava sendo vigiado e controlado pela polícia e estava impedido de lecionar numa universidade em Munster. Eduardo, além do seu crescimento e comunhão com Deus, adquiriu muitos conhecimentos teóricos no tempo de prisão e alimentava um grande desejo de colocá-los a serviço como professor. Tinha um dom especial voltado para a Educação e desejava ser um formador na área teológica e religiosa. Após seu doutorado em Teologia, em março de 1844, Eduardo Michelis, a convite do Bispo João Teodoro Laurent, foi morar em Luxemburgo, tornando-se lá professor de “Dogmática” no recém-inaugurado Seminário Diocesano.

Eram, então, apenas três anos de Fundação. Eduardo confiou à obra às mãos de Deus Providência com uma decisão extremamente livre e desapegada e seguiu seu caminho. Para as Irmãs a despedida de Eduardo foi muito difícil. Uma crônica antiga fala da sua importância como presença junto à novel Fundação: “A originalidade de seu ser e sua influência espiritual marcaram, mais que quaisquer palavras, as atitudes e a vida das primeiras Irmãs e deram à Congregação a sua forma interior”.

Eduardo, antes de partir, deixou muitas coisas organizadas: nomeou, como Diretora do Orfanato, Irmã Elisabeth Sarkamp, escreveu as Primeiras Regras para as Irmãs,  cuidou de orientação segura nesse início da história da Congregação:  encarregou seu amigo Francisco Spiegel para ser o Orientador Espiritual da mesma e um grupo de amigos sacerdotes que apoiariam a obra pela oração, aconselhamento e ajuda na formação. Uma vez por ano o querido Fundador voltava para rever as Irmãs, a obra e para orientar o seu Retiro Espiritual.

Eduardo realmente teve a firme confiança de que a Providência conduziria a obra com amor e carinho; ele mesmo carregou a Congregação em seu generoso coração e a teve presente em sua oração  todos os dias. Em seu diário ele expressa: “Até aqui a obra se desenvolveu. Aquele que lhe deu o início, queira dar-lhe também o crescimento”. Deus reservou para Eduardo a missão de colocar a semente da  obra,  a outras pessoas cabe a missão de adubar, regar, cuidar e colher os frutos. Esta missão continua ainda hoje.

No dia 3 de novembro de 1867, no Jubileu de 25 anos de vida e missão da Congregação, realizou-se uma solene celebração em forma de gratidão à ação da Providência. Na homilia, seu amigo Francisco Spiegel assim se expressa: “Se Eduardo Michelis pudesse estar aqui nesse ambiente festivo, diante de Jesus, o Salvador, ele mal poderia falar, mas seu coração se elevaria ao céu, cheio de gratidão, dizendo: É Obra do Senhor” Ele não se daria a si a honra, mas diria humildemente: Louvado seja Jesus Cristo!”